Redação
A eleição deste ano em Mangaratiba, na Costa Verde do Rio, teve uma migração em massa de eleitores de fora do município para votar na disputa que elegeu Luiz Claudio Ribeiro (Republicanos) prefeito. Além das suspeitas de fraude em títulos eleitorais, os cooptados no esquema investigado pelo Ministério Público assumiram à reportagem do Fantástico, da TV Globo, que receberam R$ 100 para votar.
Só de janeiro a maio, mais de 5,5 mil pessoas pediram à Justiça Eleitoral para transferir títulos para Mangaratiba. As inconsistências eram tantas que cerca de 1,5 mil foram negados.
A eleição foi decidida por 125 votos, e a chapa derrotada, de Aarão Moura (PP), enviou à Justiça indícios de fraude. A defesa de Luiz Claudio acusou Aarão de “criar narrativas e disseminar desinformação para tumultuar o legítimo resultado do pleito.”
O prefeito eleito também é vice-presidente da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, cujo patrono é o bicheiro Rogério Andrade, preso em outubro como o mandante da morte do rival Fernando Iggnácio.
O volume de pessoas de fora de Mangaratiba se registrando foi tão grande que o município chegou a ter um número maior de eleitores (46,8 mil) do que de moradores (41,2 mil, segundo o Censo 2022 do IBGE).
— Chegou um momento que encheu tanto (o local para registro do título de eleitor) que não cabia mais gente no corredor. Tiveram que descer com a fila lá para a porta do fórum, para a rua, com distribuição de senha — disse ao Fantástico a promotora Débora de Souza Becker Lima, que contou ter visto uma negociação de compra de voto em um estacionamento em frente ao seu escritório.
Sem se identificar, pessoas que venderam os seus votos disseram ao Fantástico que sabiam que o esquema configurava crime eleitoral. Algumas moravam em Sepetiba, bairro da Zona Oeste do Rio.
Entre as provas reunidas pela investigação estão dezenas de conversas em grupos de mensagem que organizavam a logística do dia da votação. Uma das entrevistadas do programa relatou que foi oferecido até um carro de aplicativo.
— Quando foi vendido, eu pensei que fosse ser ônibus, van ou alguma coisa que fosse pegar daqui. Não sabia que seria Uber, com esse conforto todo — disse.
Segundo a promotora, o pagamento só era feito depois que os cooptados enviavam o comprovante de votação. O papelzinho, no entanto, não indica em quem a pessoa votou.
A reportagem também identificou inconsistências na denúncia da chapa perdedora, como comprovantes de votação falsos. Uma mulher procurada para se pronunciar comprovou que não votou em Mangaratiba.
Com informação do Extra